sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Padrinho narra últimos momentos de menino em Itapuã: "Eu gostava dele"

Com a voz calma, olhar firme e expressão serena, o cabeleireiro e fotógrafo Rafael Pinheiro de Jesus, 28 anos, contou ontem, em detalhes, ao CORREIO sua versão sobre como se livrou do corpo do pequeno Marcos Vinícius de Carvalho dos Santos, 2 anos.

Durante entrevista na sede da Polícia Civil, na Piedade, ele disse que, depois de o garoto engasgar com mingau e morrer, ele colocou o corpo do menino em um cooler (recipiente para manter bebidas geladas) e o abandonou no areal, em Itapuã, onde foi localizado na quarta-feira.
Comvoz calma, Rafael relata com detalhes a morte de Marcos Vinícius (Foto: Marina Silva)
Rafael contou que tudo começou na noite da quinta-feira (13), pouco depois das 20h. Ele serviu ao menino leite de soja. Marcos Vinicius tinha intolerância à lactose e era diabético, por isso a alimentação inspirava cuidados. Ainda segundo ele, a criança estava acostumada a tomar a bebida, mas, nesse dia, apresentou uma reação ao alimento. O menino engasgou, vomitou e morreu alguns minutos após a refeição.
A polícia aguarda a conclusão do laudo cadavérico pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT) para confirmar ou refutar a versão de Rafael. O documento deve ficar pronto em 30 dias.O padrinho carregou o corpo do afilhado a pé até um areal na Alameda Afrânio Coutinho. Ele voltou para casa, passou na feira do bairro e depois registrou o desaparecimento na delegacia. Rafael conversou de forma tranquila e disse considerar a reação da sociedade justa. Confira a entrevista.
O que aconteceu na quinta-feira à noite? Por que Marcos Vinicius passou mal?
Eu dei a ele leite de soja, que ele estava acostumado a tomar, porque tem intolerância à lactose. Dei o que dava sempre, mas ele começou a passar mal, não sei por quê.

Quando isso aconteceu?
De noite, depois das 20h.

O que aconteceu com o menino?
Ele teve ânsias de vômito. A garganta dele começou a borbulhar, como se estivesse com água dentro. Ele começou a vomitar e logo em seguida, coisa de uns 10 minutos, ele chegou a falecer. Eu tentei reanimar ele, mas não consegui.
E aí?
Eu coloquei o corpo dele em um cooler (recipiente para manter bebidas geladas), esperei o dia amanhecer e levei ele para o areal.
Você saiu que horas? Foi a pé?
Fui. Era entre 7h e 8h.

E depois?
Depois voltei para casa e, de lá, fui na feira e contei a história do sumiço.

Você esteve na delegacia?
Procurei a 12ª Delegacia à noite para registrar o desaparecimento e depois  fui para a outra delegacia (DPP).
Por que você não procurou a polícia ou um hospital quando o menino passou mal?
Não falei logo a verdade porque fiquei com medo, medo de tudo isso que aconteceu agora, de eu ser responsabilizado pela morte dele.
Por que você fez página no Facebook, participou de passeata e deu entrevistas, se você sabia que Marcos Vinicius estava morto?
Não fui eu quem organizou a passeata.
Mas você estava lá.
Estava.
Por quê?
(Silêncio)
A polícia diz que sua mãe induziu a investigação ao erro. Ela foi sua cúmplice?
Agi sozinho e  minha  mãe não sabia de nada. Quem confirmou a história (para a polícia) não foi minha mãe, foi o rapaz do posto (de gasolina), mas ele desmentiu depois.
Por que você resolveu criar Marcos Vinicius?
Peguei ele porque a mãe dele não tinha condições de criar. Ela chegou a dormir no fundo da minha casa, então, eu não podia deixar ele passar isso com ela.
Como era a sua relação com ele? Vocês saíam?
Eu trabalho em casa, por isso é mais fácil cuidar dele. A gente ia na praia, praça, passear. Eu gostava dele.
Você trabalha com o quê?
Sou cabeleireiro e fotógrafo.
Você é usuário de drogas?
Sou.
Usou drogas no dia do crime?
Não.
Você disse no depoimento que foi um acidente, mas a polícia não descarta crime doloso.
O laudo vai confirmar.
Confirmar o quê?
Que foi o sufocamento através de mingau.
Você e Marcos Vinicius moravam sozinhos.   A mãe do menino visitava vocês?
Não. Ela não ligava pra ele. Não cuidava dele. Ela não tinha amor por ele.
Está arrependido?
Sim.
As pessoas estão revoltadas. O que você acha da reação da sociedade?
É justa.
Está preocupado com o que pode acontecer com você na prisão?
Não quero pensar nisso. 


LEMBRE TODA A CRONOLOGIA DO CASO MARCOS VINÍCIUS
1. Quinta-feira (13)  Marcos Vinícius morre, segundo versão de Rafael, que cuidava da criança, depois ingerir mingau com leite de soja.  Ainda segundo o próprio cabeleireiro, ele coloca o corpo do garoto em um cooler e aguarda amanhecer.
2. Sexta-feira (14)  Rafael pega o cooler com o corpo do afilhado e caminha de Nova Brasília de Itapuã até a Alameda Afrânio Coutinho, onde deixa o corpo em um areal, atrás do Tchê Caranguejo. Inventa a história de sequestro e dá queixa.
3. Sábado (15)  Rafael acompanha a mãe de Marcos Vinícius, a garçonete Fabiana Carvalho, 18, até a Delegacia de Proteção à Pessoa (DPP) para relatar o desaparecimento. Conta versão sobre casal em Corolla e dá entrevista à imprensa.
4. Domingo (16) Amigos e familiares de Marcos Vinícius fazem passeata em Itapuã, pedindo ajuda para localizar o menino. Rafael participa da manifestação e cria página no Facebook para ajudar nas buscas. Polícia já sabe que ele está mentindo.
5. Quarta-feira (19) Rafael comparece, acompanhado de advogado, na 12ª Delegacia (Itapuã) para ser ouvido novamente. Ele confessa o crime e alega morte acidental. Ele leva os investigadores até o local onde deixou o corpo e é preso em flagrante.
Fabiana, 18, mãe de Marcos Vinícius, chora no IML ao falar do filho
(Foto: Almiro Lopes)

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